quinta-feira, 14 de maio de 2009

Pela costa do Pacífico chileno...

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As seis horas da manhã num início de dia solarengo, preparo-me para mais um dia na estrada mas lamentavelmente tenho de esperar umas horas até arrancar…não há combustível… problemas do deserto! Sem água para o banho ainda sobrevivo, agora sem gasolina… era o que havia de faltar. Espero até as dez e consigo encher o depósito com a ansiedade “miudinha” de partir até o Pacifico.
Passo primeiro por Calama, cidade mineira suja e empoeirada e decido não parar. A norte desta cidade encontra-se uma das maiores minas de ferro da região – as minas de Chuquicamata. Continuo pela nacional 25 até Antofagasta, umas das principais cidades portuárias do Chile, terra de bons amigos, conhecidos nestes “maus” caminhos.
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Tinha um convite para ficar a descansar em casa deles, mas depois de ver o movimento e o ambiente desta penosa cidade decido mudar de rota. Percorri a estrada pela beira-mar para matar as saudades mas como não achei nada de extraordinário, preferi continuar para sul. Faço um sacrifício e sigo até o parque nacional de El Pan de Azucar, a uns 350 kms.
Pela rota 5, en La Negra, a 75 kms a sul de Antofagasta, encontro o monumento que marca o início do Deserto do Atacama – a mão do deserto. Esta escultura de 11 metros é o ex-líbris e ponto de paragem obrigatória de todos os viajantes que se aventuram por estas passagens.
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Pelo caminho passo por várias povoações, outrora férteis em produção mineira. O cenário é desolador, do tipo “Chernobyl”… tudo abandonado e em ruínas… sinais evidentes do progresso!
Depois de um pequeno desvio de 15 km, numa estrada de terra batida e bem compacta avisto um local surpreendente para acampar, mesmo pertinho do mar, em plena praia… divinal!
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Fiquei por aqui durante dois dias a comer peixe fresco e mexilhões "al vapor", ouvindo as ondas do mar e apreciando esta maravilha da mãe natureza, num hotel de três triliões de estrelas com uma janelinha virada para o Universo...
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Já com os meus desejos “em dia”, parto para mais uma jornada, desta vez de 540 km até La Serena. Durante o percurso passo por Copiapó e por Vallenar, onde se encontram alguns dos mais importantes telescópios da América do sul, em observatórios que avistam o pólo sul celeste.
Muito próximo de La Serena tenho dois furos, nos dois pneus… pura sorte! Consegui repará-los com alguns contratempos, mas a seguir veio quase o pior… o pneu traseiro depois de reparado não ficou bem cheio. Devido a falta de ar ficou torcido e depois de vários kms de rodagem imperfeita, acabou por rebentar e não cai por sorte. O susto foi grande, não só pelo descontrolo da moto mas sobretudo pelo estrondo da explosão.
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Prontamente fui ajudado e consegui resolver o problema com relativa facilidade… há males que vêm por bem!

Estive durante dois dias nesta cidade hospitaleira enquanto resolvia o problema. Aproveitei também para substituir o pneu dianteiro e fazer a revisão da moto… uma brincadeira que saiu bem cara para o meu pequeno orçamento, mas nestes casos é preferivel gastá-lo na oficina... do que em hospitais ou medicamentos.
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Com o bolso mais leve mas com espírito em alta, continuo a minha viagem até a capital – Santiago. Esta viagem de 540 km foi feita na companhia de Rolf, um Suíço que viaja por “sudamérica” sozinho… Aproveitei o convite e fiquei em Colina, muito próximo de Santiago, numa fazenda de uns amigos suíços e alemães… simplesmente espectacular e com comida deliciosa… afinal de contas, sou um homem com sorte!

1 comentário:

florbela barreto disse...

Bem, tirando os "furos", és mesmo um homem de sorte. Sorte pq afinal tudo está a correr bem, não tens tido contratempos de maior, e sorte pelo que observas. Estás um verdadeiro contador de histórias verdadeiras.

Felicidades e que Deus continue a acompanhar-te.