quinta-feira, 14 de maio de 2009

Santiago do Chile, “a metrópole”…

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Graças a hospitalidade de Rolf e Bernard, fiquei hospedado durante 4 dias em Colina, a 40 km a norte da capital. Neste pedacinho de terra afastado da civilização aproveito para recarregar baterias, não só as das máquinas, como também as minhas. Precisava de uns dias de descanso para colocar as crónicas em dia e desfrutar um pouco desta paisagem singular.
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Decidi confeccionar um jantar de agradecimento e aproveitei para conhecer a capital. Disseram-me que em Santiago existiam bons mercados com preços acessíveis. Visitei o “Donde Augusto”, um espaço bem recuperado, de assinatura “Eiffel”, com óptimos restaurantes e pequenas bancas de peixe e marisco bem fresco. Comprei um Congrio Dorado e umas garrafas de Sauvignon Blanc a um preço incrível.
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Em Santiago caminhei um pouco pelas ruas pedonais e visitei a Praça de Armas.
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Esta praça de contrastes estranhos é de facto o melhor lugar da cidade que aínda vale a pena conhecer. É um autêntico sacrilégio ver o mix de arquitectura colonial com a ostentada modernidade. É por isso que detesto as grandes capitais, verdadeiras “pseudo” metrópoles cada vez mais desordenadas e perigosas.

Decididamente não gostei do que vi… o meu pensamento desenhou um encanto sobre esta cidade que não foi correspondido. Só espero que Buenos Aires suprima totalmente esta desilusão. Mas para compensar, o jantar foi óptimo e consegui causar uma boa impressão aos meus anfitriões (rsrsrs)…
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Depois de limpar a churrasqueira e de lavar a loiça, deito-me satisfeito por desfrutar tão bom momento e penso no próximo destino, Valparaiso e Viña del Mar.
Desta vez não preciso de me preocupar com as distâncias, afinal estou a uns escassos km do destino e por sugestão do Rolf ficarei a pernoitar na Villa Kunterbunt, uma referência para os motociclistas europeus.

Pela costa do Pacífico chileno...

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As seis horas da manhã num início de dia solarengo, preparo-me para mais um dia na estrada mas lamentavelmente tenho de esperar umas horas até arrancar…não há combustível… problemas do deserto! Sem água para o banho ainda sobrevivo, agora sem gasolina… era o que havia de faltar. Espero até as dez e consigo encher o depósito com a ansiedade “miudinha” de partir até o Pacifico.
Passo primeiro por Calama, cidade mineira suja e empoeirada e decido não parar. A norte desta cidade encontra-se uma das maiores minas de ferro da região – as minas de Chuquicamata. Continuo pela nacional 25 até Antofagasta, umas das principais cidades portuárias do Chile, terra de bons amigos, conhecidos nestes “maus” caminhos.
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Tinha um convite para ficar a descansar em casa deles, mas depois de ver o movimento e o ambiente desta penosa cidade decido mudar de rota. Percorri a estrada pela beira-mar para matar as saudades mas como não achei nada de extraordinário, preferi continuar para sul. Faço um sacrifício e sigo até o parque nacional de El Pan de Azucar, a uns 350 kms.
Pela rota 5, en La Negra, a 75 kms a sul de Antofagasta, encontro o monumento que marca o início do Deserto do Atacama – a mão do deserto. Esta escultura de 11 metros é o ex-líbris e ponto de paragem obrigatória de todos os viajantes que se aventuram por estas passagens.
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Pelo caminho passo por várias povoações, outrora férteis em produção mineira. O cenário é desolador, do tipo “Chernobyl”… tudo abandonado e em ruínas… sinais evidentes do progresso!
Depois de um pequeno desvio de 15 km, numa estrada de terra batida e bem compacta avisto um local surpreendente para acampar, mesmo pertinho do mar, em plena praia… divinal!
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Fiquei por aqui durante dois dias a comer peixe fresco e mexilhões "al vapor", ouvindo as ondas do mar e apreciando esta maravilha da mãe natureza, num hotel de três triliões de estrelas com uma janelinha virada para o Universo...
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Já com os meus desejos “em dia”, parto para mais uma jornada, desta vez de 540 km até La Serena. Durante o percurso passo por Copiapó e por Vallenar, onde se encontram alguns dos mais importantes telescópios da América do sul, em observatórios que avistam o pólo sul celeste.
Muito próximo de La Serena tenho dois furos, nos dois pneus… pura sorte! Consegui repará-los com alguns contratempos, mas a seguir veio quase o pior… o pneu traseiro depois de reparado não ficou bem cheio. Devido a falta de ar ficou torcido e depois de vários kms de rodagem imperfeita, acabou por rebentar e não cai por sorte. O susto foi grande, não só pelo descontrolo da moto mas sobretudo pelo estrondo da explosão.
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Prontamente fui ajudado e consegui resolver o problema com relativa facilidade… há males que vêm por bem!

Estive durante dois dias nesta cidade hospitaleira enquanto resolvia o problema. Aproveitei também para substituir o pneu dianteiro e fazer a revisão da moto… uma brincadeira que saiu bem cara para o meu pequeno orçamento, mas nestes casos é preferivel gastá-lo na oficina... do que em hospitais ou medicamentos.
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Com o bolso mais leve mas com espírito em alta, continuo a minha viagem até a capital – Santiago. Esta viagem de 540 km foi feita na companhia de Rolf, um Suíço que viaja por “sudamérica” sozinho… Aproveitei o convite e fiquei em Colina, muito próximo de Santiago, numa fazenda de uns amigos suíços e alemães… simplesmente espectacular e com comida deliciosa… afinal de contas, sou um homem com sorte!