domingo, 1 de março de 2009

De Cafayate até Salta “La Linda"

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Na povoação de Cafayate não há muito que visitar ou ver, apenas uma pequena praça com muito comércio, restaurantes e uma pitoresca igreja. No entanto é uma cidade turística, muito movimentada por mochileiros e aventureiros que seguem a descoberta da Quebrada de Cafayate e dos Valles Calchaquies, como também dos paises vizinhos - Chile e Bolivia.
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As “bodegas” fazem umas degustações interessantes, mas fiquei chocado com um pormenor… as rolhas! Parece que a cultura da cortiça não chegou ainda a estas latitudes.
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No dia seguinte e com tudo preparado opto por seguir pela Ruta 68 rumo a Salta. Esta opção é mais rápida e o piso é espectacular.
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Início da Quebrada
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Mais surpreendente é a paisagem… além de fascinante, é sobretudo misteriosa. Por uma estrada quase desértica, salpicada por montanhas de um vermelho bizarro e com umas formas estranhíssimas que mais parece Marte, vão surgindo alguns pontos de interesse nesta imensa Quebrada (tambem conhecida como Quebrada de las Conchas).
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A Garganta do Diabo e o Anfiteatro são o exemplo.
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Existem outras formações baptizadas com os nomes de El Sapo e El Fraile que sao facilmente visiveis junto a estrada.
Apreciar tão sumptuosa arte natural é de facto uma sensação única e acreditem que ser feliz com tão pouco é novidade para mim...
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Já em Salta...
189 km rodados e 4 horas depois, chego a tão aclamada Capital da Província – Salta, fundada em 1582. Também apelidada de La Linda, originária da palavra indígena Aimara “sagta”, que significa “a mais Bela”. Com 470.000 habitantes é sem dúvida a mais simpática e bem estruturada base para explorar a região.
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Distanciada 1.500 km de Buenos Aires, encontra-se razoavelmente próxima das fronteiras de Paso de Jama e Paso de Sico, com o Chile e com La Quiaca, na Bolívia. Sua praça bem cuidada e os seus ex-libris bem conservados, inspiram tranquilidade aos seus visitantes e convidam a ficar por uns tempos… aconteceu comigo!
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Convento de S. Francisco
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Catedral

Visitei um local interessante, o Museu de Arqueologia de Alta Montanha onde esta exposta uma criança (congelada) encontrada no topo do vulcao Llullaillaco juntamente com outras duas, a 6.700 mts. de altura (Niños de Llullaillaco). Junto a elas encontraram também cento quarenta e seis objectos que fazem parte do espolio, nesse mundo de miniatura, que os acompanhou na viagem até o além. Os estudos indicam que estas crianças viveram a 500 anos atrás e faziam parte do apogeu Inca, pouco antes da chegada dos espanhois. http://www.maam.org.ar/ .

Em Salta fiquei durante uma semana e todos os dias eram de despedida. A onda que se vivia no hostal El Andaluz era única. Viajantes de todos os cantos do planeta reunidos em pouco menos de 100 m3 fazem transformam os momentos simples em majestosos. Obrigado ao Staff pelos bons momentos e pelo Mate, bem quente e amargo, como também ao chá de coca que tão bem me fez ao meu estômago.

Um cumprimento ao Gabriel Sanchez, conhecido por Gabo… personalidade genuína e artista por natureza.

Observem este blog e confirmem o que lhes é aqui dito: http://www.fileteado.blogspot.com/ . Ofereceu-me um t-shirt com a arte do Fileteado, cruzando as bandeiras da Argentina e de Portugal.

Em cada lugar como este, onde paro e fico, sinto o meu espírito cada vez mais desfragmentado… partes de mim vão ficando, mas sempre com a esperança dum possível reencontro...

Pondo de lado sentimentalismos organizo o próximo trajecto – S. Salvador de Jujuy até a Quebrada de Humahuaca, para passar o Carnaval com muita Chicha de milho e de amendoim e com as Coplas populares… a noite das comadres é na quinta-feira e o desenterro do Diabo é no Sábado 21…

Carnaval in Humahuaca…. Eu vou!

Tafi del Valle e o Parque Nacional de los Cardones.

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Saindo de Tucumán parto em direcção a Sudoeste até ao cruzamento de Acheiral, seguindo para o Noroeste argentino pela RP 307, mais propriamente para Tafi del Valle. Faço um pequeno desvio para visitar o Dique Angostura. No cruzamento que liga ao dique, tinha uma indicação de um parque com Menhires, em El Mollar. Aproveitei para visitá-lo mas infelizmente fiquei sem bateria na minha máquina. Mesmo assim consegui tirar 2 fotos… mas não valeu a pena a visita. O Dique também foi uma desilusão… depois destas duas tentativas frustradas, decido continuar a minha viagem até Tafi. Começa-se a subir lentamente e a sentir um frio estranho. Penso que a partir daqui as coisas vão mudar em relação as temperaturas.
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Esta pequena povoação localizada no centro de um vale a 2,200 metros sobre o nível do mar, resguardada pelas verdes montanhas e refrescada pelas húmidas brisas, fazem com que as temperaturas, na ausência do sol, desçam até os 10º e em algumas alturas do ano chegam perto dos 0º. Este lugarejo trouxe-me recordações de S. Pedro do Sul no início da primavera. Vale a pena ficar a pernoitar.
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A região não tem grande atracção natural mas acaba por ser uma estancia de férias para os Tucumanos, devido a sua proximidade.
Fico num hostel muito simpático, atraído por um grande cacto plantado no seu pequeno jardim... achei o máximo.
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Com um grande esforço consigo descer a moto por umas escadas manhosas para poder guarda-la em segurança. O inconveniente dos Hostels é o défice de estacionamento e por vezes tenho de recorrer a parkings privados, principalmente nas grandes cidades.
Pela manhã parto bem cedo em direcção a Cafayate. Com um frio miudinho mas bem agasalhado sigo o meu rumo. Passo por o Parque Nacional de Los Cardones, numa estrada sinuosa que rasga altas montanhas empedradas com cactos gigantes bastante ramificados e com uma fauna selvagem composta por jumentos, llamas, raposas e aves de rapina, a 2.700 metros de altitude.
Estes Cardones, cuja madeira esburacada, mais parecida com o queijo Gruyere , é muito utilizada no fabrico de móveis, artesanato e nalguns locais serve como material de construção.
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Descendo pelo parque sinto a temperatura aumentar e no fundo do vale, após uns 30 km avisto uma bifurcação a esquerda, numa estrada de terra, em direcção as Ruínas de Quilmes.
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Estas ruínas pré-incaicas, são das mais bem conservadas da Argentina. Este povo indígena (os Quilmes) resistiu durante 130 a conquista europeia iniciada no século 16 e foi muito respeitado pelos Incas.
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Acabou por ser praticamente dizimada pelos espanhóis, mas apesar de tudo resta uma cidade construída em terraços pela encosta da montanha, com um sistema de rede hidráulica e grandes praças comunitárias, sinais de boa organização desta civilização. Saio satisfeito da visita e pelo preço do ingresso (0,80 €).


Estou próximo de El Cafayate, cidade conhecida pela qualidade dos seus vinhos, produzidos a 1,660 metros sobre o nível do mar, num micro clima único entre planicies e montanhas. Quase a chegada já se começa a sentir o cheiro do néctar e as “bodegas” brotam pela estrada fora, apelando a degustação… até parece que chamam por mim!