quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Desejos de um Feliz Ano
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Trans-amazónica
Chegada ao destino e início de uma jornada diferente. O desembarque foi asustador. Não há cais para atracar, apenas uns mecos para amarrar o barco o mais próximo da costa. Duas tábuas, tres pessoas e muita fé, colocaram a moto em terra barrenta, mas firme.
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Cumprimentos ao Fernando (proprietário), ao Simon, ao Carlos, a Hellen e um abraço a restante equipa da Moto Brasil pela amabilidade e simpatia.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Pelo Rio Madeira a bordo do Cristo Rei
Adiante… com a “cama” pendurada e com o meu espaço delineado com antecedência, na hora prevista e com tudo pronto, aguardo com ansiedade o zarpar do navio "Cristo Rei", para mais uma grande epopeia pela selva amazónica… lindo!!

Só por volta das 21.00 é que o Comandante decide arrancar e com o barco carregado até o pescoço lá vamos nós, sem nenhum tipo de electrónica de navegação, guiados pelas estrelas (quando o céu está limpo...coisa rara!) e Deus.
Conseguir dormir numa cama de rede não é tarefa fácil, muito menos com o barco em movimento e sempre com atenção aos nossos pertences porque é muito habitual ser roubado durante o sono… Que levem os anéis, mas deixem ficar os dedos, pensava eu com os meus botões.
Mas nada aconteceu, felizmente. O grupo era muito simpático e divertido.
Sr. Eduardo, Junior e Fábio
Para avisar que a refeição está pronta a servir, um dos tripulantes de um forma descontrolada, soava um apito, qual experiência de Pavlov… O banhos eram tomados com água “barrenta” do rio. A mesma água era utilizada na trivial lavagem bucal. O barco saiu da rota por duas vezes, encalhando na costa por longos períodos, fazendo com que aumentasse ainda mais o tempo da viagem.
Decido sair mais cedo do barco, que se dane… prefiro andar na estrada, já sinto saudades.
Avisei ao comandante que saia em Borba, mas acabei por desembarcar em Manicoré, um dia depois.
Apesar de tudo, vale bem a pena a experiência, não só pela visualização do dia a dia das povoações nas margens do rio mas sobretudo pelo contacto com a natureza, que nalguns pontos é bem intenso e tranquilizador.
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Manaus, Capital mundial da Borracha 1888-1912
Um pouco desordenada e suja com uma paisagem urbana algo decadente mercados ambulantes rodeiam o porto principal num agitado movimento, de um vai e vem de passageiros e mercadorias oriundas principalmente de Belém e Porto Velho, agitam um porto “moderno” com a descontracção de uma localidade no meio da selva.
Seguindo o meu instinto, visito o ex-líbris da capital, o Teatro Amazonas, um dos poucos sinais remanescentes do período áureo da exploração da borracha e testemunho vivo de ocupação europeia.
A visita começa as 15.30 e durante uma hora pude contemplar uma das muitas construções projectadas pelos portugueses nos finais do século XIX, obra-prima da Belle Époque, altura em que se faziam fortunas com a extracção da borracha.
È caracterizada no seu exterior pela cúpula revestida com 36.000 azulejos coloridos, principalmente com as cores da bandeira do Brasil.
O seu magnífico interior está muito bem preservado, limpo e cuidado, com fabulosos tectos pintados à mão e soalhos de madeira multi-colorida, matéria-prima oriunda principalmente da Europa.
No fim do tour visito uma tasquinha interessante – a tasquinha da Gisela, propriedade do Sr. Joaquim, onde vende o famoso caldo designado por Tacacá.
É um tipo de sopa preparada com o tucupi (sumo de uma espécie de mandioca previamente fervido com alho e chicória), camarões secos, goma (mingau feito com uma massa fina e branca, resultado da lavagem da mandioca ralada) e jambú (considerado como afrodisíaco). O tacacá é servido em cuias (metades de cocos), acompanhado ou não com molho de pimenta-de-cheiro, e é encontrado geralmente em todo o Amazonas, em barracas da famosas “tacacazeiras”. É um prato originário dos índios bastante substancial por sinal.
Fiquei rendido pela explicação da receita e pelas dicas do Sr. Joaquim. Despeço-me dele com a sensação de um dia bem passado com a vontade de regressar, talvez um dia… !
Já com o bilhete na mão e com a cama de rede comprada por 15 reais só me resta que a travessia até Porto Velho corra pelo melhor e de preferência rápido – entre 3,5 a 4 dias…. rapidinho, não acham?
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Passagem pela Reserva Indígena.
Com a moto aos soluços, com uma viagem complicada pela frente e com o mito instalado a volta da Reserva, restou-me rezar e pedir que conseguisse chegar a Manaus são e salvo… a moto logo se vê!
A progressão da moto é medíocre mas procurei não forçá-la nem sobreaquecê-la. Ao apertar a embraiagem nas reduções de velocidade, a mota desligava constantemente… que terror!
Quarenta km antes da Reserva encontro a linha do Equador… o GPS não falha e as imagens assim o confirmam. O calor é abrasador!
Arranco do ponto zero para sul e após 30 minutos de viagem avisto ao longe a entrada da Reserva Indígena da tribo dos Waimiri Atroari.
É um percurso de 124 km com uma estrada horrível em plena selva tropical com animais selvagens, vegetação verde, densa e com paisagens surreais.
Esta reserva alberga uma população com cerca de 200 indígenas, onde mantêm as suas tradições, apesar de se encontrarem “occidentalizados” de mais para o meu gosto. Não se pode parar, filmar nem fotografar. É muito restrito e quem não cumprir as leis, poderá sofrer represálias.
Arrisque e parei várias vezes, fotografei e filmei… nada me aconteceu. Vi alguns indígenas mas não tive oportunidade de fotografa-los, foi pena!
A estrada é um caos, toda esburacada, por vezes de alcatrão e com buracos abissais, todos tapados com água barrenta das chuvas torrenciais.
Passada a reserva decido continuar directo até o meu destino sem parar, tenho de chegar cedo para resolver o problema da moto.
Ao chegar fiquei pasmado, tinha uma ideia errada de Manaus… pensava que era uma cidadezinha um pouco maior que Boa Vista… Errado!
Manaus é uma metrópole com cerca de 2 milhões de pessoas, bastante industrializada e movimentada. É a capital do estado do Amazonas e o ponto de partida para a descoberta da selva. A cidade fica na confluência dos dois maiores rios do mundo – o Solimões (designação do rio Amazonas neste troço) e o rio Negro. O rio Madeira corre a jusante de Manaus e será o meu companheiro durante a travessia de 4 dias até Porto Velho.
Vendo tamanha confusão, tanta gente a circular pelas estradas e a mota sempre a desligar no pára-arranca começo a ficar realmente preocupado. Pergunto a um motociclista se existe algum concessionário da Suzuki e ele respondeu sem hesitar: ”sim meu velho, me siga que eu levo-o lá”. Palavras sagradas!
Passados uns minutos e com muita chuva encima chego ao concessionário Arena Motos, gerido pelo Rodrigo, um jovem extremamente profissional com uma equipa extraordinária. O meu primeiro contacto foi com o Samuel, que proferiu estas palavras: “não fique preocupado, você está em casa, pode deixar tudo aqui que ninguém mexe”.
Deixei o equipamento todo a confiança, inclusive a moto... (risos)
Tomei um cafezinho, troquei de roupa e depois de tudo tratado fizeram o obséquio de me levar até o hotel., que maravilha.
No hotel, negoceio o preço da melhor maneira e por fim oferecem-me as refeições durante a estadia.
Para quem viu o dia mal parado, correu melhor do que esperava.
Estou deslumbrado com a simpatia e a humildade destas pessoas, sempre muito atenciosas e disponíveis para ajudar.
Manaus

